NOVO HONDA CIVIC SI
Civic deve ficar na faixa de R$ 110 mil
09/10/2014 08h34- atualizado às 13h09 em 15/10/2014
Dá para ler o destino de um carro por esses números. O anterior despejava toda força apenas quando chegava a um ponto em que a maioria dos carros entrega sua potência máxima. Era para ser dirigido como se acabasse de ter sido roubado. Somente com o pé embaixo que se via a entrada do comando mais brabo do i-VTEC. O comando de válvulas eletrônico regia a abertura das válvulas de admissão de acordo com a rotação do motor e, após os cinco mil giros, disparava até tocar na faixa vermelha aos 8.000 rpm.
Essa distúrbio de dupla personalidade sempre definiu os motores VTEC da Honda. Graças à essa e outras tecnologias, os pequenos motores sempre geraram potência específica próxima ou superior aos 100 cv/litro. É uma mania da época em que as motos eram o produto mais conhecido da marca. Só que, aparentemente, nem todo mundo curtia. Daí começou o regime de engorda dos motores, principalmente nos Estados Unidos, onde até o S2000 2.0 não escapou de virar 2.2 em 2004.
Desde que virou nacional em 1998, o Civic deixou de ser vendido na carroceria cupê no mercado nacional. Como se não bastasse essa carga emocional sobre o reencontro, o Si que me aguardava na pista de testes de Tatuí (SP) era da cor laranja, certamente a mais sedutora entre as demais opções (preto, branco e vermelho).
Só que há um preço a se pagar. O espaço atrás dá apenas para dois adultos com menos de 1,75 metro. A queda do teto não deixa folga alguma, ainda mais com o teto solar de série. Além disso, o Civic norte-americano entrega mais que é um carro mais barato nos Estados Unidos (onde custa uns US$ 23 mil), é só ver as rebarbas nos porta-copos laterais traseiros ou a ausência de itens de conveniência simples como espelho retrovisor eletrocrômico e vidro elétrico um-toque para o passageiro. Para compensar, o Si traz seis airbags, controles eletrônicos, sistema multimídia, entradas auxiliares (incluindo uma HDMI), câmera de ré (com três ângulos de visão), entre outros equipamentos.
Falando em ausências, o sistema de entretenimento i-MID traz tela sensível ao toque, interface intuitiva e som refinado, mas deve o trivial GPS. Quanto ao porta-malas, embora a boca nem seja tão estreita ou alta, o compartimento decepciona e leva apenas 330 litros mesmo com o uso de estepe temporário na medida 135/80 aro 16.
Ao sentar ao volante, nem os bancos em preto e vermelho conseguiram chamar mais atenção do que o conta-giros em destaque. Lá está a faixa vermelha a partir das 7.000 rpm, exatamente quando vem a potência máxima - é quase a mesma faixa civilizada do Civic 2.0 convencional. Esse Si não está aqui para desperdiçar rotações, algo que dá uma mão na hora de cortar consumo e emissões.
Nem por isso ele se tornou mal-educado. O Civic Si acorda silencioso e assim fica na dele até os 4 mil giros. Ao observar ao lado da pista o modelo fazer suas primeiras voltas, mal pude ouvir o motor de longe. Nada daquelas passagens arrebatadoras, ele ficou menos estridente e aquele ruído metálico ficou mais abafado de longe.
Essa civilidade fica clara ao pisar no leve pedal de embreagem. Quem já dirigiu um Honda manual sabe que os engates são sempre de primeira e não é diferente nessa caixa. A alavanca curtinha do tipo joystick de Atari admite ser tratada com indiferença nos engates rápidos emitindo apenas um clique do trambulador a cada mudança.
Na primeira esticada, fica claro que o que mudou. No novo Civic Si, o duplo comando de válvulas variável se torna mais brabo após os 5.100 giros. É nessa hora que uma luzinha vermelha se acende à esquerda do velocímetro digital, junto com outro grupo de luzes que indicam a hora de trocar as marchas sem você precisar olhar para baixo. Não há mais aquela explosão furiosa marcada pela escalada ensurdecedora de rotações.
Ao olhar para o mapa de regimes dele, fica claro que as curvas ficaram mais lineares. Mesmo antes da entrada do comando mais esportivo. Claro que aproveitar esses dois mil giros de paraíso entre os 5 mil e 7 mil rpm ainda é a maneira mais divertida de se dirigir o Civic Si. Você pode sentir isso em uma ultrapassagem. Ao rodar a 120 km/h, o motor está a apenas 3.100 giros em sexta, então basta reduzir para uma quarta para pegar a entrada do i-VTEC e deixar tudo para trás.
Mesmo com os controles de estabilidade e de tração acionados, a luzinha no painel não apontava a entrada. Os pneus Continental ContiPro Contact 225/40 em rodas aro 18 também ajudam a segurá-lo. Após algumas voltas, o conjunto parece leve. O peso de 1.361 kg é relativamente contido e ajuda a dar uma relação peso/potência de 6,6 kg/cv.
Com 2,8 voltas de batente a batente, a direção elétrica é rápida e tem peso e tato afiados. A dianteira aponta fácil e o Civic Si mantém o motorista bem informado do que acontece no limite. Barras estabilizadoras (mais grossas na traseira) deixam o cupê neutro, dando um bom reforço ao conjunto McPherson e Multilink. Embora tenham fama de gostar apenas de moleza, os consumidores americanos exigiram mais tempero - e menos saídas de frente - na geração atual. Por isso mesmo, na linha 2014 a barra estabilizadora ficou mais grossa e as rodas mais largas (eram pneus 215). Ainda assim, ele poderia ser menos macio. Na entrada de curvas a inclinação se faz sentir e tolhe uma tocada mais hardcore. Ao menos há um lado bom: sobre pisos esburacados o Civic Si não tortura ninguém.
As relações curtas do câmbio ajudaram nas retomadas, foram 5,8 segundos de 60 a 100 km/h. Nas frenagens, o conjunto de discos ventilados na frente e sólidos atrás mostrou serviço e estancou o Si de 80 a 0 km/h em 25,9 metros. A velocidade máxima, por sua vez, é limitada a 215 km/h. No final, a impressão é que o Si não vai sobressair pelos números frios. Em um mercado onde há o GTI ou o Mini Cooper S, fica difícil de concorrer em desempenho ou custo-diversão. Agora se o seu negócio é viver no vermelho a cada passeio, aproveite enquanto essa tradição ainda está de pé.
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